quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

VOTOS DE FELIZ ANO NOVO

BOAS SAÍDAS E BOAS ENTRADAS. VOTOS DE UM FELIZ ANO NOVO E DE UMA MÃO CHEIA DE COISAS BOAS PARA O ANO QUE AÍ VEM, ESPECIALMENTE, PARA OS DA CLASSE MÍNIMA E PARA TODOS AQUELES QUE, SEM EMPREGO, SOFREM AS AMARGURAS DA VIDA.

SESIMBRA, 30/12/2009 - 14h51 - jORGE bRASIL mESQUITA

FILHOS DO MEDO DA VIDA

Pertenço ao cantinho dos vultos que estendem a mão ao Futuro, porque o passado os transformou em filhos do medo da vida. São apenas números no arco do triunfo dos endividamentos, santificados pelo ostracismo a que são vetados todos os que não se abrigam nas cavernas dos que sopram os ventos da sua estabilidade, graças à instabilidade dos que professam as magias falsas da salvação quotidiana. Cansei-me das cantigas dos que louvam as louva-a-deus dos mandatos irreflectidos nos espelhos das vaidades individualistas dos que fingem que são, o que não sendo, passam por ser o livre arbítrio das mentiras que cheiram às lixeiras das verdades em que já ninguém acredita, a não ser eles mesmos, agarrados que estão, aos fluídos endividados das suas dúvidas abstractas, defendidas pelos carrapatos das ignorâncias ideológicas e pelas realidades que são o monte Evereste da falência colectiva. Não importa afirmar que não somos o que éramos noutros tempos, importa sim avaliar o que seremos se continuarmos a ser a fundição dos planos, fundidos nas sepulturas da mendicidade colectiva no reino dos reinadiços abstractos. Pouco me importam as vigílias dos cérebros emperdenidos na vigência de um reino simulado. O que se aclama não são realidades, mas abstracções de cérebros conflituosos e de afrontamentos paralisados pela ignorância de uma fragrância luminosa. Quando todos acordarmos para a claridade da nossa sina, saberemos ouvir no fragor de um desmoronamento, o quadro simbólico de um rectângulo ridículo, esfumando-se na espuma da inexistência. Será a água e não o azeite que virá ao de cima. Eis a verdade de uma outra verdade que a verdade não deixará omitir.

Sesimbra, 30/12/2009 - 14H16 - Jorge Brasil Mesquita

ASAS EM PLENO VOO

Levantei voo. Não com as asas do que era, mas com as asas do que sou. Sem asas não há voos e sem voos não há sonhos que se realizem. Por cada passo que dei, construí um Futuro que hoje não passa de um passado; por cada passo que darei, desconheço o Futuro que serei, embora saiba que sinta sobre mim, o voo dos abutres que consideram que eu sou uma presa de facilidades. Haverá sonhos que nunca sonharei, porque sei que a realidade que sou, é um sonho de ninguém e ninguém será o pássaro em que me tornarei com as asas que não se verão porque estes voos incomparáveis sem as asas do que era e do que serei, serão apenas voos de uma liberdade que a expressão não conhece. Serei tempo, vento e memória de todos os voos que voarei, para além de tudo o que é imaginável, simplesmente, porque sou um sonho de asas em pleno voo.


Sesimbra, 30/12/2009 - 12h22 - Jorge Brasil Mesquita

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

COLMEIA DE PALAVRAS

Li o que li e li o que não li; agora esqueço-me de ler o que não sei ler e o que não quero ler. Por puro prazer. Criei uma colmeia de palavras e provei-lhe todo o género de sentidos; depois, abandonei-a num deserto de que não me lembro o nome. Um corvo todo vestido de negro pousou no parapeito da janela e com hábil mestria abriu-me a janela dos pensamentos; as palavras ao sentirem-se livres, fugiram de mim e eu nada fiz para recuperá-las. Hoje, ao cruzar a rua dos sentidos, não me iludo com o semáforo das suas paisagens. Sei que o vento reconhecê-las-á, mal o Outono as amadureça, ao anoitecê-las. Quando for o que não fui, a colmeia das palavras descobrirá, finalmente, a espécie de deserto que sou.


Biblioteca de Oeiras, 28/12/2009 - 11H38 - Jorge Brasil Mesquita

PIRILAMPOS

Eis a cura que não cura este remédio da verdade: apaixonei-me pelos pirilampos. São sinónimos do cérebro humano; quando luzem, faiscam as ideias, luminosas e inconciliáveis, da Humanidade; quando se desligam, são os esconderijos perfeitos de amantes invioláveis e de todos os abrigos dos segredos que a Humanidade desconhece. Uma vez, uma única vez, assisti ao grande bailado dos pirilampos numa noite de serenidades; fui regado com a Aurora Boreal de uma Eternidade desconhecida. Quando o bailado cessou, perdi-me na floresta impenetrável da sobrevivência. Só os pirilampos das suas memórias conhecem o paradeiro do seu labirinto, onde eu me fiz, sabendo o nada do saber.

Biblioteca de Oeiras, 28/12/2009 - 10H35 - Jorge Brasil Mesquita

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

VOTOS DE FELIZ NATAL

Gostaria imenso de oferecer muitas prendinhas a toda a gente, mas, infelizmente, pertenço aos reformados da classe mínima, pelo que não me resta outra alternativa do que oferecer qualquer texto da minha autoria, aparecidos neste blogue e no "Gomos do Tempo" que está linkado a este. Para isso basta usarem o envelope branco que surge no fim de cada texto. É muito fácil de fazê-lo.

Moinho das Antas, 23/12/2009 - 10H45 - Jorge Brasil Mesquita

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

AS REGRAS DESTE BLOGUE

Este Blogue será regido por princípios intransponíveis, baseados nas seguintes regras:

1º - Eu, Jorge Manuel Brasil Mesquita, serei o único e exclusivo autor e escritor de todos os posts que por aqui aparecerem, protegidos que estão, pelo "Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos", da Sociedade Portuguesa de Autores, da qual sou sócio.

2º - Este blogue, tais como o foram, "Comboio do Tempo" e os "Gomos do Tempo", será inegociável: politicamente, desportivamente, economicamente, comercialmente, publicitariamente ou por qualquer outra forma de transacções que envolvam quaisquer custos para quem quer que seja.

3º - Neste blogue, tais como nos outros já mencionados, a liberdade de pensamento foi, é e será total.

Esclareço que politicamente sou de esquerda, desportivamente sou do Futebol Clube do Porto, religiosamente sou agnóstico e estou reformado com 61 anos. Estes dados pessoais estarão completamente submetidos aos três pontos acima referidos.

Um aviso: se este blogue for, por qualquer razão que eu desconheça, privado da sua continuidade, será a prova evidente de que há poderes ocultos que fazem e farão tudo o que puderem, como aliás já aconteceu, para asfixiarem quem é filho da liberdade do pensamento absoluto.

Jorge Manuel Brasil Mesquita, 29/11/2009 e 09/12/2009, Lisboa e Moinho das Antas.

P.S. - Convém esclarecer que todos os escritos que por aqui aparecerem serão primeiramente feitos à mão. Originais são originais e, além disso, existe uma ciência chamada Grafologia que serve para o que serve. Os originais só podem ser copiados ou manipulados com a autorização do respectivo autor. ASPA sabe muito bem disso. Convém elucidar, igualmente, que haverá textos políticos e outros géneros temáticos que nada terão a ver com a política propriamente dita. Quem estiver interessado em possuir, para si próprio, e não para os negociar, algum dos textos escritos é só servir-se do envelopezinho.
AVISO, MAIS UMA VEZ, QUE NÃO ADMITO PUBLICIDADE VIGARISTA NESTE BLOGUE.

Concurso público Espanha
Consegue um Emprego Fixo para Toda a Vida. Vem ter Connosco
www.MasterD.pt

Curso Energias Renováveis
Preparamo-lo para Trabalhar num Sector de Topo. Contacta-nos
www.MasterD.pt

EIS EXEMPLOS DE ANÚNCIOS VIGARISTAS E IRRESPONSÁVEEIS QUE, ALÉM DO MAIS,FORAM INTRODUZIDOS GRAÇAS A PROCESSOS DE PIRATICE INFORMÁTICA. A EMPRESA É A MESMA E PERTENCE À CLASSE DA RALÉ PORTUGUESA. A PULHICE TEM LIMITES E AS REGRAS DESTE BLOGUE NÃO SÃO LIXO. SERÁ QUE A JUSTIÇA NÃO FUNCIONA NESTE PAÍS?

A TORRE DA VERDADE

Olhei para os ponteiros do relógio, no alto da Torre da Verdade.Não se moviam, nem para um lado, nem para o outro. Simplesmente inamovíveis.
O Sol, uma bola de fogo implacável, escouceava ao acaso. Por precaução, abri o guarda-chuva protector. Tinha a noção exacta do tempo que ia fazer. Tinha a certeza que o Sol ia chover, a qualquer momento. Os fios de luz intensa assemelhavam-se a picadas precisas que atingiam os neurónios com a distinção da morte da vida humana. Atravessei a rua com a lentidão de um camaleão, sem que houvesse simulação de cores. Habituara-me à sede insaciável, bebendo as minhas próprias lágrimas, que paridas de verdade, serviam-me de bússola na passadeira da vida.
Quando a chuva parava, secava o silêncio, e eu ouvia na brisa do vento, a eternidade dos anúncios às vidas breves. Olhei, de novo, para o relógio da Torre sabendo que era um painel, piscando os códigos indicifráveis de cada segundo que fustigava o ritmo do seu colapso. Não me sentia afectado, porque as florestas impenetráveis desta minha razão, rugiam, inconsoláveis, às células da inércia.
Por vezes, permitia que um naco de luz iluminasse recantos que eu próprio desconhecia habitarem na floresta em que me tornei. A floresta representava uma torneira que se fechava, fechando-me a fonte das rotas que podiam abrir as clareiras do conhecimento que me desconhecia.
O espanto apossava-se de mim, ao ver que, ciclicamente, o Sol não forçava a penetração desta floresta, o que produzia em mim uma espécie de frescura que eu abraçava como um amor escondido na noite do infinito.
Todos os dias subia, num estado de embriaguês vivificadora sufocante, ao alto da velha e decrépita urbe que não resistira ao colapso da vida. Deste modo ia gastando as memórias que me restavam e atravessava a minha floresta com todas as imagens que ainda povoavam os povoados que separavam os mistérios dos segredos. Acabavam por ser a fome da minha fome que estava reduzida ao silêncio que tudo consumia. Não havia sombras que me acolhessem em lugar algum. A floresta tornara-se num refúgio interior que eu reconhecia ser inútil, quando todo eu não fosse mais do que um poente irrepetível.
Cansado de ser um guarda-chuva de mim mesmo, deixei que o Sol queimasse cada pedaço da minha floresta e olhei, temerariamente, para aquela luz incandescente, sorrindo, e permiti que cada intimidade do meu corpo escorresse como lava e, sem que uma lágrima me bebesse, juntei-me às cinzas que eram o mar da realidade que se podia observar no relógio fossilizado, no alto da Torre da Verdade.

Costa da Caparica, 16/12/2009
Biblioteca de Oeiras, 22/12/2009 - 14H08
Jorge Brasil Mesquita

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

ALGURES NUMA TAVERNA

Perdi a rota do meu destino, mas um caracol com os pauzinhos ao sol iluminou-me um trilho, cujo final era uma taverna, onde pedaços de memórias me saudaram com sorrisos e com todo um arco-íris de borboletas que me perfumaram com os hálitos frescos de canções a que o meu corpo não resistiu. E, eu que não sabia dançar, senti que os meus pés se moviam, sincronizados, com os ritmos das cores que embelezavam a taverna, onde cumprimentei as saudades do futuro com apertos de mão que o passado não soube apascentar. A taverna tinha tudo o que eu não tinha: a beleza dos sorrisos, a franqueza das ideias e os abraços que abraçavam cada distância, encobrindo estes corredores de mediocridade com os saldos dos meus pensamentos. Nesta taverna fui alimentado com todas as descobertas que o meu corpo escanzelado sempre suprimira, em devaneios de perturbações eloquentes. Aprendi a ter asas de borboletas que ignorava e lambi a todos os voos de pássaros que jamais conhecera, as refeições da minha imaginação perdida nos rudimentos de farsas humanas que eram representadas nos palcos dos teatros caseiros; encetei as viagens perdidas ao mundo secreto das magias que enriquecem a fraqueza dos corpos com os brincos sexuais das sensualidades, dos erotismos e dos orgasmos românticos.
A taverna não era um sonho, mas uma fonte inesgotável do saber, que a ignorância recusava, por ter medo de ser a fonte do seu medo.
Agarrado às conversas de todos os tempos, julguei que fugindo de mim mesmo, encontraria nas raízes que plantara, a encruzilhada de ideias a que nunca quis decifrar os códigos porque os teclados que dirigiam redes digitais, nasciam alucinadas com as realidades de uma qualquer negação.
Nesta taverna nada se nega, não se questionam as perguntas e há sempre o fruto das respostas que, conforme os sabores, racionalizam a aprendizagem de qual dos ventos é o jazz dos nossos desejos mais íntimos. Ao ouvir os cancioneiros tradicionais de uma ética popular, abandonei a taverna para ouvir os limites lunares da minha regeneração histórica, assobiando uma velha trova que atravessou a noite como um silvo de um comboio, que corria, tal como eu, ao encontro do seu destino.
Sem que a verdade me escapasse, dominei a solidão nocturna e descarrilei, inebriado pela pureza das sombras nocturnas. Adeus rota da ignorância, adeus casa sem destino, adeus a tudo o que resta ao que não vejo, porque descobri neste engano de rotas a solidez nocturna da luz, nascida de um caracol com os pauzinhos ao sol.

Biblioteca de Oeiras, 12/12/2009 - 17H57
Biblioteca de Oeiras, 21/12/2009 - 14H23
Jorge Brasil Mesquita

domingo, 20 de dezembro de 2009

EU E O PÉGASO

Ontem, eu e o Pégaso concluímos que éramos amigos de longa data. Pégaso jurou que era o Futuro e eu não neguei que era o Passado. Concluímos que apesar das diferenças geracionais, jamais se gerariam conflitos entre nós, desde que pactuássemos com a realidade que não éramos e concordássemos com as mentiras que seriam as verdades, em que ninguém acreditásse. Pégaso afirmou que na constelação onde habitava , tudo o que era brilhante, estava na realidade apagado, e que eu era visto como uma Nau à deriva no stress do universo. Juntos planeámos compor outra noção do tempo e esculpir nos degraus da eternidade, uma sequência equestre de banalidades que apagariam das memórias universais, os mitos das excelências e as elites das fertilidades artísticas. O Pégaso alado, aliado e conversador, adorava paracronismos, alimentava-se de metáforas e confessou odiar as parábolas, vá lá saber-se porquê. Quanto a mim, só discutia quando não havia razões para tal. Era um perito na matéria e o Pégaso regalava-se com todos os dialectos, que eu não traduzia, mas que o alado, aliado na sabedoria, entendia tudo às mil maravilhas, vá lá saber-se como.
O respeito mútuo estava consagrado, sem tratados, pelo que nunca me atrevi a pedir-lhe boleia para onde quer que fosse. Aprendemos a explorar-nos, explorando todas as explorações que cada um de nós fazia por mútuo consentimento. Confesso que esta amizade era profundamente enternecedora.
Não havia constelações de sonhos sonhados que nós não adivinhássemos a realidade dos seus frutos. Apesar de sermos apelos à viabilidade dos seus concertos, não resistíamos a confiscar uns quantos, só pelo prazer de planarmos nas frases sublimes que ouvíamos aos cantos estrelares, revelando-nos os escafandros da vida. Tanto subíamos por aqui, como descíamos por ali, cruzando fronteiras, humanas ou urbanas, com a mesma vulgaridade com que nos escondíamos nas velas do tempo.
Nunca aprendi a voar porque confiava nas suas asas e, quando emigrávamos para o sudoeste das razões, chegávamos às justificações pelo nordeste das infidelidades, o que eram as consequências naturais de nos usarmos, consultando valências e inventando falências que desgostavam as inocências, desmentidas pelos fragores das invernias, urdidas pelas velhices poluídas pelas poeiras cósmicas da eternidade infalível.
Quando passávamos por onde não passávamos, sabíamos que só varrendo as esculturas do pensamento, abríamos às correntes do acorrentados, as bigamias consulares das vocábulos ambidextros.
Rumámos às fadigas das sombras, cansados de nós próprios, mas vencendo as resistências dos valores do tempo perdido, que se transformaram no coro das vozes que se esqueceram da nossa travessia pela vida e ocultámos-nos no casulo das fugas permanentes, onde nada do que era, vivo seria, excepto o Pégaso, porque pertence às ondas fluentes do tempo.

Lisboa, 11/12/2009 - 16H00
Saldanha, Lisboa, 20/12/2009 - 13H09
Jorge Brasil Mesquita

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

DUAS PERGUNTAS INOCENTES...

Para que serve uma Sociedade Portuguesa de Autores? Será que é um lobby só para os amigos da onça ou será que há uma voz muito mais alta do que qualquer uma das dele?

Biblioteca de Oeiras, 17/12/2009 - 14h45 - Jorge Brasil Mesquita

AMIGOS DA ONÇA

Num destes dias, , escutei com liberdade, numa mesa pública de um café da selva urbana, uma conversa de uma onça e dos seus amigos.
Começou por dizer que tentara comprar um GPS, mas o orçamento não lho permitia. Porém, conseguiu reunir um grupo de amigos e explicou-lhes o objectivo de tal aquisição. Que não se destinava à sua orientação num qualquer deserto e muito menos para se orientar nas ruas da selva. A sua ambição era outra. Com a ajuda de todos e de uma aparelhagem mais sofisticada, podia penetrar, habilmente, em uma qualquer casa de famosos, espiar-lhes as cenas mais picantes ou escabrosas, conforme os casos, e usá-las, de uma forma delicada, para cobrir as despesas dos tais aparelhos sofisticados. Mas a onça não se ficou por aí. Elaborou um plano e um método, em que podia espiar à vontade os rascunhos de certos jornalistas e, com eles, vender a jornalistas de jornais diferentes, revelações sensacionais, que cada um deles pudesse eventualmente dispor, identificando-se como sendo uma fonte privilegiada. Se as mesma notícias aparecessem em diversos jornais, quem se daria ao trabalho de acorrentar a fonte, perguntou a onça, com um sorriso nos lábios. Mas o sistema não parava por ali. Com estudos laboriosos, escolheria alguns escritores famosos portugueses e copiar-lhes-ia os originais que, rapidamente, espalharia por um mercado ávido de novidades literárias e com a possibilidade de aparecerem com o nome de outro autor. Pelo menos, dizia ele com uma grande dose de ironia, que por este processo nunca seria necessário roubar computadores de um qualquer escritor. Mas, verdadeiramente, o que mais interessava à onça, era poder copiar e manipular os discursos rabiscados dos políticos. Imaginava ele, o gozo que seria um político ir discursar a Condeixa-a-Nova e a população inteira rir-se às gargalhadas com os enganos do político, que é como quem diz, com os efeitos da onça. Afirmou a onça, descaradamente, que por este processo, viveríamos numa Democracia muito mais aberta. E a Justiça, alvitrou um dos amigos? Não me preocupo com a Justiça, porque essa anda meia perdida com as injustiças da Justiça. Garanto-vos que só assim viveríamos numa verdadeira Democracia, onde todos se tornarão em amigos da onça. As gargalhadas foram gerais, perante as doces e compensadoras perspectivas que toda uma selva destas lhes abria.
Mudo e quedo, levantei-me do café e percebi, finalmente, o "1984" de Orwell.

Biblioteca de Oeiras, 17/12/2009 - 14H01 - Jorge Brasil Mesquita

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

CENÁRIO DANTESCO

Sou um cenário de um palco onde nada se representa. Sou filho de factos sem relevo. Ilustrei-me com o tradicionalismo confuncionista ou, talvez, com as doideiras maoistas, não me lembro; embebedei-me com o alcool do existencionalismo ou na pior das hipóteses, foi com o essencionalismo, vá lá o diabo saber porquê; droguei-me, até à saciedade, com a Beat Generation, ou muito provavelmente, com a Generation do Beat; juro que a memória não me refresca qual delas foi; provei-me com doses industriais de blues tickets, dos jazz hunters e do doop-woop, ou lá o que isso seja; perfilhei as trevas do Beaudelaire, graças às falhas de luz do prédio onde não moro e para não me enraizar em ninguém, traduzi a minha idolatrada nudez, com a bestialidade universal dos que nunca foram o feitiço das suas feitiçarias, ou seja, bruxos de garimpa levantada.
Tenho consciência que sou uma revolução, involuída, de cores e sons, gastos nos prazeres da aridez sexual que o degelo dos crepúsculos disfarça com os sorrisos petulantes de crises diárias, ungidas com um Álvaro de Campos, que numa mensagem de ilusões ópticas e metafísicas me ensarilham o tempo de nada. Todos estes factos revelam a virgindade testiscular da desvirgindade envelhecida pelas influências tentaculares das minhas ignorâncias, consumidas com o lazer de querer ignorar as razões, pelas quais, geme este palco, onde tudo é nada e o nada é o tudo que não se engrena, porque não há ninguém com a mão numa caixa de velocidades e nada há para ensopar com sopinhas de pão seco.
Sou uma cena única num teatro de ninguém, a não ser de quem o tem, que sou eu e mais ninguém.
Eis a beleza e a torpeza de um cenário que é a crueza da sua natureza, nos concertos das suas realidades passageiras, com passagem directa para o inferno dantesco. A propósito, quem diabo é o raio do Dante?

Centro Cultural de Belém, 13/12/2009 - 16H52
Biblioteca de Oeiras, 15/12/2009 - 12h07
Jorge Brasil Mesquita

PINGOS DE CHUVA

ROLAM-ME PINGOS DE CHUVA DIDÁCTICA
PELO ROSTO VELHO DAS MORTES DIÁRIAS.
SECAM AO SOL NAS VIELAS MILENÁRIAS
E SÃO FILHAS DA MENTIRA SIMPÁTICA.

SOAM TROMBETAS DA TRAÇA PROFILÁCTICA
NOS ARNEIROS MENTAIS DAS RUAS AGRÁRIAS
ONDE SÓ SE PLANTAM FAVELAS VIÁRIAS
GRAÇAS AO DISCURSO DA PRAGA ASMÁTICA.

OUVEM-SE AS GARGALHADAS DAS PLATEIAS
NOS VASTOS AUDITÓRIOS DOS ESCOLHOS
QUE O ENCALHAM NA FEBRE DOS REPOLHOS

NOTA-SE O APRUMO DAS VELHAS TEIAS
QUE ADORAM AS CRISES DAS SUAS AMEIAS
TAL COMO AS ORGIAS FANÁTICAS DOS MOLHOS.

cENTRO cULTURAL DE bELÉM, 13/12/2009 - 12H38 - jORGE bRASIL mESQUITA

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

FALHOU-ME A LUCIDEZ...

Esta história não usa regras de lógica, coisa que ignoro.Tem todos os temperos da irracionalidade. Usei o meu escalpe como um troféu e pendurei-o numa tela branca pintada com as cores de uma romã rachada ao meio. Pus as minhas barbas de molho. O molho era de abacate. Senti que as verbas climáticas da minha temperatura de 0 graus, se traduziriam no investimento do meu corpo, que expunha a sua nudez esquelética, como um exemplo de escultura, para além do pós-moderno.
Optei por fazer um discurso, mesmo no centro da praça do Rossio, usando como retórica, as palavras mais bárbaras que conhecia. Ouvi algumas gargalhadas sem sentido e engoli todos os insultos com o maior dos à vontades, uma vez que a troca de línguas, é um linguado acústico, presenteado com uma feira de vaidades, onde todos se registam e nenhum resiste às labaredas saudáveis da irresponsabilidade moribunda. Quis suicidar-me no metropolitano para causar consternações, pânico e satisfações por haver menos um militante da vida. Contudo, cheguei à conclusão que os espectadores mereciam melhor espectáculo, pelo que resolvi estilizar-me como uma estátua da morte, todo vestido de branco, o que era um contra-senso, segundo alguns comentários atrozes que escutei, sugerindo que devia enforcar-me em público, reparem, não fingindo, mas usando uma realidade, em vez de uma farsa, o que me deu, pensei eu, a brilhante ideia de me transformar num farsante, mas concluí, rapidamente, que a concorrência seria muita e, num ápice, iria à falência.
Afinal, optei por ser um mentiroso convicto, o que daria grandeza à minha alma e espiritualidade ao meu raciocínio que, como já afirmei, é totalmente irracional.
Cansado de não ser famoso, anunciei ao mundo, em geral, que descendia directamente de uma iguana dos Galápagos e, tal como ela, considerava-me, em vias de extinção, o que, implicitamente, me ofereceria todas as garantias de uma vida faustosa. Adepto invertebrado da inveja, ri-me espalhafatosamente de todos os olhos que me devoravam com admiração, sem na realidade saberem bem porquê. Transformei-me numa encenação colectiva do amor em estado de guerra, sem qualquer ideia de paz.
Como esta ocasião é uma caixinha de surpresas, saltei e esmolei, como qualquer palhaço politiqueiro, por 15 minutos de fama, o que soprando numa gaita de foles, me daria direito à comissão do fole que afoguearia qualquer pardieiro, pelo que brandi com a maior falta de sobriedade, o gamanço de umas quantas palavras que me dessem direito à composição do século.
Com toda a singeleza, confesso que, repentinamente, me distraí e me perdi do objectivo que projectava, com objectivas filtradas pelos cenários grotescos dos flibusteiros pós-modernistas. E, como nada mais há do que esta confissão descolorida, pisgo-me para onde as realidades, nunca serão verdades factuais. Ámen.

Biblioteca de Oeiras, 14/12/2009 - 15H28 - Jorge Brasil Mesquita

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

QUEM GOSTA DE PESADELOS?

Vivemos no sonho de sonharmos o que nunca sonhámos. Desconhecemos a razão. Tentamos descobrir a incapacidade da nossa capacidade, mas somos leves demais. Não resistimos ao mais leve sopro de coragem porque não temos asas para não sermos as folhas incandescentes que se vão diluindo com o Outono das palavras mansas. Parecemos a fragilidade das gazelas assustadiças que povoam as imagens das consciências, aprisionadas aos amantes das terras áridas e secas. Temos sede, mas não sabemos que espécie de sede sentimos. Bebemos sonhos que sonhámos, mas não sonhamos com as celas que nos bebem as sedes que, incapazes, não deciframos, porque os livros que somos, são palavras de sedes que não se pontuam em dicionários de sonhos sem sinónimos. Inventamos sons para nos aliviarem a destreza de não sermos as gaivotas que aprenderam a fugir dos temporais, usando as asas que só os sonhos nos dão. Sonhamos que somos a resistência no paraíso da fraqueza e sorrimos à decadência, sonhando que plantamos a eloquência na aridez da vulgaridade e semeamos às raízes do tempo, as assinaturas dos nossos passos cadentes.
Tememos a fluência dos rios, mas não interpretamos os dialectos das nascentes.
Sabemos como acordamos dos sonhos, mas nunca aprendemos a conhecer, como e quando, eles nos ocultam as realidades das verdades que recusamos, porque, em vez de sonhos, são pesadelos. Pesadelos!? Quem gosta deles? Só o Freud.

Biblioteca de Oeiras, 10/12/2009 - 16H33 - Jorge Brasil Mesquita

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

MOLICEIRO DE FANTASIAS

Olá amor da minha distância.
Às vezes, sou um moliceiro vogando nas fantasias românticas de memórias aveirenses que se esvaem no bulício das Feiras de Março, lá pelas horas do almoço, entre a última aula da manhã e a primeira aula da tarde, do Liceu de Aveiro. Outras vezes, relembro com um certo rebuliço de saudades, as viagens do Lérias, o cavalo a vapor do Ramal do Vouga, que me largava na Estação de Aveiro, cheinha de barricas de ovos e que assistia à revoada dos pardalitos estudantis que seguiam, a pé, pela Avenida até ao Liceu. Verdadeiras aventuras de delírios adolescentes. Já fui de Aveiro; hoje, não sei bem donde sou. Sou um pardalito sem pouso certo, mas sabem-me bem estes voos inesperados, onde vejo o que não via e onde quero o que não queria. Eis que assim pude observar, neste Centro Cultural, um quadro que muito apreciei: "Daqui Lavei As Minhas Mãos", de um pintor que não conhecia, Nuno Viegas, e de quem me tornei admirador. Como podes imaginar, estou aí e estou aqui. Como moliceiro rego-me de palavras doces, como Lérias, fujo ao tempo e encontro a riqueza das palavras breves que definem os actos que se arrumam nas prateleiras dos sentimentos que devoram distâncias e semeiam as ilusões da vida que é o fogo do momento.
Os sentidos não reconhecem distâncias, mas as distâncias reconhecem nos sentidos, os moliceiros da vida, os Lérias dos carvões em brasa. Somos passageiros sem passagens marcadas nesta viagem de pouca terra, pouca terra. Pouca terra, distância à vista, entre a liberdade de ser moliço e de ser brasa, em brasa. As palavras são o cavalo a vapor do nosso moliceiro.

Centro Cultural de Belém, 08/12/2009 - 15H58 - Jorge Brasil Mesquita

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

TENHO DIAS...

Tenho dias que vivo no deserto, entre as areias errantes, as estrelas e o Sol. Quando o vento entoa os seus cânticos de desespero, eu desapareço. Abraço-me ao alfabeto das dunas e não faço perguntas, nem ouço respostas. O vento apesar de ser um concerto de sons que lambem e lamentam toda a solidão que vestem, são o corpo do silêncio que caminha, perdido e cansado, entre a luz ofegante do Sol e a suavidade luminosa das estrelas.
A noite é o camelo que me conduz à lanterna de um oásis, onde o cansaço é um sonho de nunca mais acordar. A simplicidade deste percurso diário, é a arte complicada de não pensar, sugando todo o seu encanto com a realidade das dunas que me povoam e com a eternidade do camelo que se arrasta sem oásis e sem desertos para compreender que a água reservada, não é mais do que um sopro de pérolas que choveram dos olhos, sem luz do dia, sem a luz da noite, porque as dunas apenas lambem o tempo com os lacraus da finidade. Tem dias que esta duna que aparento ser, cobre a razão da luz, esconde no silêncio da sua imobilidade a voz que o silêncio abraça ternamente para que não se ouçam os pingos da chuva que nunca se olham.
Tenho dias que sou o adeus do próprio adeus. Só o vento me acalma, só uma palmeira conhece a sombra da minha sombra.
Tenho dias que entre o deserto e as estrelas, sou a simplicidade do nada, do ninguém.
Tenho dias que é este o hábito que visto na areia solitária de um silêncio.

Biblioteca de Oeiras, 07/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita